sábado, 22 de maio de 2010


Quando saí, ouvi da casa vizinha palavras de admoestação suave:
"Hoje estás muito rabino, gato!"
Também eu, antes de fechar a porta da rua, me voltara para trás, recomendando:
"Porta-te bem, cãozinho! Ficas a tomar conta da casa..."
Agora, deslizando sobre o alcatrão, passo pela montra de uma loja, diante da qual um senhor de cabelo branco se interessa pelos artigos expostos. Ao seu colo, tão atento quanto o dono, um pequeno rafeiro de pêlo dourado estende o focinho delicado para o vidro.
Não consigo deixar de virar a cabeça, para acompanhar por mais tempo aquela cena graciosa. E parece-me curioso o facto de tratamos os nossos animais como se fossem crianças.

Sorrindo enquanto me fala do seu gato, a senhora jovem acaba por fazer adormecer a voz numa pausa triste: "A minha cadela morreu, sabia?"
Consternada, mal sei como consola-la, e acabo por murmurar apenas: "É difícil..."
"Sim, é difícil", concorda. "Um cão é como um familiar nosso. E um familiar muito chegado."


Ilona Bastos