quinta-feira, 15 de maio de 2014
sexta-feira, 9 de maio de 2014
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Consegues ouvir?
Shiuuu... escuta...
Deixa-me ouvir o grasnar dos patos no
jardim,
o tocar da folha seca, caída da
árvore, a pousar na laje,
o murmurar das águas que brotam das
fontes, risonhas,
o cantar dos pássaros, a namorar,
através dos ramos,
o vozear das crianças, no relvado,
o som diluído e vago da cidade, que
ora soa a mar distante,
ora guincha, alerta, no buzinar do
trânsito,
ora ruge, como leão, na passagem de um
avião...
Shiuuu... escuta...
Consegues ouvir, também?
Ilona Bastos
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
O Presente e o Futuro
Era jovem. Entrou em passo rápido, semblante sisudo, olhar no chão.
Do seu aspecto, tudo diziam as faces cavadas e pálidas, o cabelo à escovinha, a argola na orelha, a camisola larga de capuz caído.
Era jovem. Entrou em passo rápido, semblante sisudo, olhar no chão.
Do seu aspecto, tudo diziam as faces cavadas e pálidas, o cabelo à escovinha, a argola na orelha, a camisola larga de capuz caído.
Sentou-se
e pareceu-me então que tremia. O seu discurso era hesitante. Tinha dificuldade em explicar
o que o trazia, misturando assuntos, tecendo frases e ideias entrecortadas de pequenos soluços inaudíveis mas perceptíveis.
Pegámos
na ponta da meada, separámos águas, as ideias tornaram-se mais claras, conversámos muito e às tantas
confessava: eu falo pouco, não consigo falar.
E
disse-lhe: mas agora está a falar, estamos a falar tão bem. É bom
termos quem nos oiça, e sentirmos que alguém está a seguir,
connosco, o nosso percurso. Assim, quando temos menos ânimo –
porque todos temos dias de menos ânimo –, há alguém que nos
chama e nos volta a colocar no caminho certo.
Lemos,
em conjunto, algumas frases difíceis de um documento sério.
Recordei-lhe que no ler e no escrever, como no futebol ou em qualquer
outra coisa, o que era importante era a prática, e ele concordou.
Preenchemos
depois um impresso e falámos de como teria de instruí-lo e onde entregá-lo. Até dava jeito, o local, que já lá tinha uma visita
programada para o dia 10.
Quando
levantei a cabeça vi que levava os dedos à cara para limpar as
lágrimas, pequenas, límpidas, lineares, que lhe desciam dos olhos
de um espantoso e transparente azul.
Não
se sentiu incomodado com o meu olhar, como não senti incómodo com
as suas lágrimas.
Falou-me
da vida que levara, dos erros que cometera. Tudo
passado.
O
que importava agora era encontrar um emprego e o amor dos filhos.
Concordei,
sorrindo: o importante, em cada momento, é o presente e o futuro!
Ilona Bastos
sábado, 25 de janeiro de 2014
Na Calçada
Um manto verde encobriria, para os incautos, o empedrado da calçada. Chovia a potes. Dias antes, o calceteiro, numa cidade longínqua, sob o sol forte da tarde, partia pedras com o martelo. Debruçado, afastava a areia e assentava os paralelepípedos brancos e negros. Fazia desenhos de barcos e de seres marinhos. Batia, calcando, a obra final.
Logo depois, começava, a natureza, o seu trabalho. Do céu, jorrava água. Dos interstícios de terra, germinavam sementes. E onde o homem semeara pedra, após alguns dias de rega, nascia um jardim!
Ninguém parecia aperceber-se – tão auto-centrados caminham os seres pela cidade...
Mas, na verdade, já o preto e o branco anunciavam o verde – onde o barco iria navegar, onde o polvo viria agitar seus longos e negros tentáculos de pedra.
Ilona Bastos
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