segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014







Consegues ouvir?

Shiuuu... escuta...
Deixa-me ouvir o grasnar dos patos no jardim,
o tocar da folha seca, caída da árvore, a pousar na laje,
o murmurar das águas que brotam das fontes, risonhas,
o cantar dos pássaros, a namorar, através dos ramos,
o vozear das crianças, no relvado,
o som diluído e vago da cidade, que ora soa a mar distante,
ora guincha, alerta, no buzinar do trânsito,
ora ruge, como leão, na passagem de um avião...

Shiuuu... escuta...
Consegues ouvir, também?


Ilona Bastos

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014





AMIZADE


Uma semente
que ensaia a vida
através da verdura.

Mais tarde, um botão
que as folhas acolhem
com leve doçura.

E a flor que se ergue,
sorrindo ao sol,
brilhando ao luar.

Tal é a  Amizade,
que nasce, que cresce,
que a vida engrandece,

E só ao coração
compete guardar. 



Ilona Bastos

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014


O Presente e o Futuro

Era jovem. Entrou em passo rápido, semblante sisudo, olhar no chão.  
Do seu aspecto, tudo diziam as faces cavadas e pálidas, o cabelo à escovinha, a argola na orelha, a camisola larga de capuz caído.
Sentou-se e pareceu-me então que tremia. O seu discurso era hesitante. Tinha dificuldade em explicar o que o trazia, misturando assuntos, tecendo frases e ideias entrecortadas de pequenos soluços inaudíveis mas perceptíveis.
Pegámos na ponta da meada, separámos águas, as ideias tornaram-se mais claras, conversámos muito e às tantas confessava: eu falo pouco, não consigo falar.
E disse-lhe: mas agora está a falar, estamos a falar tão bem. É bom termos quem nos oiça, e sentirmos que alguém está a seguir, connosco, o nosso percurso. Assim, quando temos menos ânimo – porque todos temos dias de menos ânimo –, há alguém que nos chama e nos volta a colocar no caminho certo.
Lemos, em conjunto, algumas frases difíceis de um documento sério. Recordei-lhe que no ler e no escrever, como no futebol ou em qualquer outra coisa, o que era importante era a prática, e ele concordou.
Preenchemos depois um impresso e falámos de como teria de instruí-lo e onde entregá-lo. Até dava jeito, o local, que já lá tinha uma visita programada para o dia 10.
Quando levantei a cabeça vi que levava os dedos à cara para limpar as lágrimas, pequenas, límpidas, lineares, que lhe desciam dos olhos de um espantoso e transparente azul.
Não se sentiu incomodado com o meu olhar, como não senti incómodo com as suas lágrimas.
Falou-me da vida que levara, dos erros que cometera. Tudo passado.
O que importava agora era encontrar um emprego e o amor dos filhos.
Concordei, sorrindo: o importante, em cada momento, é o presente e o futuro! 

Ilona Bastos

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

sábado, 25 de janeiro de 2014



Na Calçada

Um manto verde encobriria, para os incautos, o empedrado da calçada. Chovia a potes. Dias antes, o calceteiro, numa cidade longínqua, sob o sol forte da tarde, partia pedras com o martelo. Debruçado, afastava a areia e assentava os paralelepípedos brancos e negros. Fazia desenhos de barcos e de seres marinhos. Batia, calcando, a obra final. 
Logo depois, começava, a natureza, o seu trabalho. Do céu, jorrava água. Dos interstícios de terra, germinavam sementes. E onde o homem semeara pedra, após alguns dias de rega, nascia um jardim!
Ninguém parecia aperceber-se – tão auto-centrados caminham os seres pela cidade...
Mas, na verdade, já o preto e o branco anunciavam o verde – onde o barco iria navegar, onde o polvo viria  agitar seus longos e negros tentáculos de pedra.

Ilona Bastos