sábado, 12 de setembro de 2009

Bento XVI

"Uma das pobrezas mais profundas que o homem pode experimentar é a solidão. Vistas bem as coisas, as outras pobrezas, incluindo a material, também nascem do isolamento, de não ser amado ou da dificuldade de amar. As pobrezas frequentemente nasceram da recusa do amor de Deus, de uma originária e trágica reclusão do homem em si próprio, que pensa que se basta a si mesmo ou então que é só um facto insignificante e passageiro, um "estrangeiro" num universo formado por acaso. O homem aliena-se quando fica sozinho ou se afasta da realidade, quando renuncia a pensar e a crer num Fundamento. A humanidade inteira aliena-se quando se entrega a projectos unicamente humanos, a ideologias e falsas utopias. A humanidade aparece, hoje, muito mais interactiva do que no passado: esta maior proximidade deve transformar-se em verdadeira comunhão. O desenvolvimento dos povos depende sobretudo do reconhecimento de que são uma só família, a qual colabora em verdadeira comunhão e é formada por sujeitos que não se limitam a viver uns ao lado dos outros."

Caritas in Veritate, Terceira Carta Encíclica de S. S. Bento XVI, Paulus
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quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Depois de cruzarmos os portões do jardim, decidimos ir buscar pão para o jantar.
A padaria, do outro lado da rua, foi uma surpresa agradável: pequena, branca e perfumada.
Apesar das paredes em mármore rosado antigo, transmitia uma sensação de actualidade e limpeza inesperadas. Os suspiros, bem esculpidos, de um design dulcíssimo, as bolachas de manteiga, espessas e polvilhadas de açúcar, as línguas de veado, acabadas de sair do forno, os pães de Deus, pães de leite e croissants, muito frescos, o pão, nas mais variadas formas e composições, deliciaram-me.
Encantada, como criança em loja de doces, recordei o sentimento antigo de que os bolos mais saborosos são os da padaria.
Propositadamente demorei-me na escolha e na encomenda. Permiti ao meu olhar e ao meu olfacto que se passeassem livremente pelo expositor de aço inoxidável (talvez daí viesse a inesperada sensação de limpeza…) enquanto dialogava com a vendedora sobre as características dos diversos tipos de pão expostos: as formas, as carcaças, as bolas, as baguetes, os pães de mistura…
Há tanto tempo a comprar pão embalado, no supermercado, esquecera-me até de como é uma padaria!
Finalmente, tudo escolhido, embrulhado e pago, a padeira deu meia volta, anunciando: “Esperem um momento! Vou colocar num saco”. E retirou de uma gaveta, com elegância, um saco alvo, translúcido, onde guardou o pão e os bolos.
Uma alegria genuína me tomou quando recebi a encomenda por sobre o balcão de vidro brilhante.
E, dando as mãos, saímos da padaria.
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Ilona Bastos
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sábado, 5 de setembro de 2009

É necessário que esta louca, esta filósofa, esta sábia, esta criança sonhadora que em mim habita me sussurre, grite, acotovele, acorde e ilumine, para que decida passar algumas palavras ao papel.
Assim me tem trazido a preguiça, ao ponto de me convencer a ignorar a voz desafiante da escrita. Como é isto possível? O que se passa? Será do Verão, que me embriaga de calor, de céu azul e sol, conduzindo-me por caminhos longínquos, tão distantes da poesia? Ou de simples ausência de inspiração, que o morno fluir do tempo acolhe acriticamente e incentiva?
Seja como for, devo estar atenta às mensagens breves que agora me chegam. Não desprezá-las, é o primeiro passo. O segundo é encontrar em mim vitalidade para descobrir o bloco e a caneta. Depois, o resto resolver-se-á na troca de carícias entre o aparo elegante e a superfície atraente do papel. Entre si se entenderão, praticamente sem que tenha de intervir. Nesse bailado sobre o acetinado cor de marfim as palavras surgirão, e com elas as ideias.
Surge-me então a questão: o que nasce primeiro – a ideia ou a palavra? Qual é a causa e qual é o efeito?
Esta dúvida é recorrente no meu dia-a-dia. A possibilidade da inversão do nexo de causalidade persegue-me mais do que seria razoável. Sempre que o resultado de um estudo me é apresentado, interrogo-me sobre se os investigadores tiveram na devida conta a possibilidade de a causa ser, realmente, o aparente efeito, e o verdadeiro efeito a presumida causa. Corolário, talvez, da minha teoria de que as coisas são o contrário do que parecem, será esta suspeita, afinal, uma característica intrínseca da minha maneira de ver o mundo?
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Ilona Bastos
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Joe Hisaishi Live performance

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