quinta-feira, 13 de novembro de 2008


Quando te abrigavas no meu ventre, e eu descia pausadamente esta avenida suave e curva, olhava, por sobre o muro do jardim, as árvores, as flores, os carreiros pejados de folhas e dizia: Vê, meu filho, meu amor! Quanta beleza te espera cá fora!
E quando ouvia os gorjeios dos pássaros escondidos nas ramagens, sorria e murmurava para ti: Escuta, que maravilha! Cantam, as aves, de alegria, por saberem que vais nascer!
E em todos os momentos contigo conversava, confidenciando-te segredos, prometendo-te um mundo encantador, cheio de felicidade, contando-te da ânsia de sentir-te nos meus braços, aconchegar-te junto ao peito, criar-te.
Recordo-me de tudo isto agora que já és homem, e que uma incógnita me atordoa.
Pausadamente desço a avenida, como o fazia então – e também hoje faço o meu olhar saltar o muro baixo, atravessar as grades e espraiar-se pelo jardim, caminhar pelos carreiros, acariciar as sebes, deter-se nas bagas vermelhas e redondas de um arbusto, voejar por entre as folhas douradas que aqui e ali se desprendem dos ramos, planam um pouco e aterram suavemente nos caminhos.
A beleza é semelhante à de outrora. Também o meu espírito se deleita com a Natureza. Mas a dúvida, subtil, insidiosa, macula, incerta, a minha felicidade. Não sei, agora, o que se abriga em mim.

1 comentário:

Anónimo disse...

ADORO OS TEXTOS E
ADORO AS FOTOGRAFIAS. QUE FOTOGRAFIAS FANTÁSTICAS!!!!!!!!!!!
É UM PRAZER VIR AQUI DE MANHÃ E TER ESTAS JANELAS ABERTAS PARA TAMANHA BELEZA.
GOSTO MUITO MUITO MUITO.


MJC