Igor Stravinsky conducts The Firebird - medici.tv
terça-feira, 31 de março de 2009
sexta-feira, 27 de março de 2009

a estender-se a nossos pés
como uma planície verdejante?
.
Que saudades das tardes imensas,
infinitas, em que brincávamos,
corríamos, descansávamos
e líamos, horas a fio,
esses romances que nos enchiam a alma
e que em nós se tornaram!
.
Durmo demais ou de menos?
Sou lenta ou, antes,
apressada em demasia?
Manhãs e tardes esfumam-se
na voragem do dia-a-dia…
.
Nervosamente antecipo o pôr-do-sol,
enquanto percorro este labirinto
feito de momentos compartimentados,
intercalados por corredores
apinhados de ânsias e temores,
que são o meu tempo de hoje.
.
Sonho com o regresso do tempo infindo,
em que o corpo voltará a correr livre,
como criança, e o espírito, ousado,
voará mais alto do que nunca!
.
Tanto desejo esse tempo!
Tanto planeio criar
nessa planície verdejante!
.
Caiam paredes!
Dilate-se o espaço!
Germinem sementes!
Estenda-se a nossos pés
a imensidão do tempo!
.
Ilona Bastos
Gabriel Fauré: Pavane, Op. 50
andrewgrummanJC
sábado, 21 de março de 2009

O ESCREVER DA POESIA
Não sei se escrevo poesia
Ou se a poesia me escreve.
É presunção, decerto, julgar-me criadora,
Chamar poesia a estas palavras
Que debito, desajeitadas e frouxas,
Nas brancas páginas de um caderno.
Acreditar que meus actos desconexos,
Pensamentos e gestos perplexos,
Encerram em si a poesia, o motor
Gerador do meu viver.
E, contudo, a poesia existe em mim
E em meu redor. Sinto-a!
Encontro-a amiúde,
Em manhãs de sol radiante,
Em tardes de plúmbeo céu,
Em noites quentes de abóbada estrelada.
Nem sempre, é certo, a reconheço,
Nem sempre, é certo, me toca e aborda…
Não sei mesmo de onde vem,
Os caminhos que percorre,
Suas maneiras e manhas.
Dias há que a procuro em vão,
Nas esquinas e nas sombras,
Mesmo nas iluminadas avenidas
Que essa luz branca, esfuziante,
Torna nítidas e confusas,
Na confusão que tudo invade,
E cresce, se a poesia não está.
É-me estranha, é-me íntima a poesia!
Ténue, fugidia, forte, impressionante,
Dá sentido ao que sentido não tem,
Mas se a escrevo ou se me escreve,
Isso é que eu não sei bem…
Lisboa, 9 de Março de 2005
quinta-feira, 19 de março de 2009
Sinfonia nº 9 de Beethoven
Chegou a Primavera
QUE QUERES? É PRIMAVERA!
Que queres tu? É Primavera!
Porque lhe vaticinas a morte, se o sol brilha
e nos enche a alma de alegria, e os pássaros,
rejubilando, nos iluminam o pensamento
com ideias de felicidade?
Porque insistes que esta bênção é passageira?
.
É Primavera, não compreendes?
Precisas que grite, para to explicar,
o milagre da Natureza?
É necessário que te prenda e te cale,
para que deixes de murmurar, amargamente,
sempiterno velho do Restelo,
"Ah, mas este bom tempo não vai durar"?
.
Não percebes?
.
Que precisamente por ser efémera
a Primavera é superiormente bela?
Que exactamente por este calor ameno, benfazejo,
ser transitório, é sumamente aconchegante?
Que a explosão de vida que nos faz renascer
reside na precariedade desta luz abençoada,
alagada pela chuva, açoitada pelo vento?
.
Cala-te, se não sabes apreciar
o magnífico dia que nos aguarda!
.
Que queres? Tudo passa, tudo muda,
e só por isso podemos permanecer
como somos.
Ilona Bastos
domingo, 15 de março de 2009

Onde se esconde, em mim,
Esta semente que germina
Ao chegar da Primavera?
Será no coração pesaroso
Que o Inverno deixa mouco,
Mas com a Primavera remoça
E canta, e esperto reconhece
Em redor, o amor,
A vida, a felicidade?
Será no cérebro cansado,
Que o Inverno torna vago,
Mas que a Primavera espevita,
Encanta, afaga, e inspira,
De ideias fervilhante,
Cintilante, criador?
Será no olhar embaciado,
Que de cores se enche, louco?
No olfacto, inebriado
Pelo aroma das flores?
Nos ouvidos doloridos,
Que na música se perdem?
Ou na pele
Que, brilhante, resplandece?
Ou na língua,
Que em paladares mil se deleita?
Onde, onde se esconde
Esta semente que agora floresce
E me inunda de Primavera?
Ilona Bastos
Lisboa, 22 de Março de 2005
segunda-feira, 9 de março de 2009
sábado, 7 de março de 2009

Escrevo sobre explosões de luz e felicidade.
É a vida! É a vida! Quero agarrá-la!
Finco-me aos raios do sol matinal,
Abraço-me às brancas nuvens
Que o céu enfeitam com encanto,
Deslizo e danço pelo azul celeste,
Mergulho no amarelo dourado das orquídeas.
Como criança, salto correndo
Em passadas largas e leves pela calçada.
Agora, que a tempestade partiu
Volto a agarrar a vida
quinta-feira, 5 de março de 2009
terça-feira, 3 de março de 2009
E se for um pouco mais de cor?
E se for aroma?
E se for som: música, ruído ou canto?
E se for sol e luz?
E se forem passos, leves, pela calçada?
E se for o ar a acariciar-me, em movimento?
E se for sorriso e fala?
E se for sabor - intenso, instigante - a café?
E se for filósofo, a questionar-se?
E se for cientista, a desvendar-se?
E se for vida?
E se for ternura?
E se for amor?
E se for a Primavera a insinuar-se
delicadamente, nos meus dias?
Ilona Bastos