quinta-feira, 4 de junho de 2009

Rainer Maria Rilke
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"Ambos nos recostámos simultaneamente nas cadeiras, o que fez os nossos rostos mergulharem na sombra. Pousei a minha chávena de vidro, alegrei-me por o chá ter um brilho dourado, lentamente voltei a esquecer esta alegria e perguntei subitamente: «Ainda se lembra de Deus?»
"O desconhecido refectiu. Os olhos penetravam no escuro e, através dos pequenos pontos de luz nas pupilas, pareciam duas longas áleas cobertas de folhagem num parque sobre o qual pousam luminosa e amplamente o Verão e o Sol. Também estas áleas começam assim: com uma arredondada luz crepuscular, estendem-se por uma escuridão cada vez mais cerrada até a um ponto distante e reluzente - a saída do lado oposto para um dia talvez ainda mais claro. Enquanto fazia esta descoberta, ele disse hesitante como se se servisse de mau grado da voz: «Sim, ainda me lembro de Deus.»"
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Rainer Maria Rilke, Histórias do Bom Deus, Quasi

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