sábado, 25 de janeiro de 2014



Na Calçada

Um manto verde encobriria, para os incautos, o empedrado da calçada. Chovia a potes. Dias antes, o calceteiro, numa cidade longínqua, sob o sol forte da tarde, partia pedras com o martelo. Debruçado, afastava a areia e assentava os paralelepípedos brancos e negros. Fazia desenhos de barcos e de seres marinhos. Batia, calcando, a obra final. 
Logo depois, começava, a natureza, o seu trabalho. Do céu, jorrava água. Dos interstícios de terra, germinavam sementes. E onde o homem semeara pedra, após alguns dias de rega, nascia um jardim!
Ninguém parecia aperceber-se – tão auto-centrados caminham os seres pela cidade...
Mas, na verdade, já o preto e o branco anunciavam o verde – onde o barco iria navegar, onde o polvo viria  agitar seus longos e negros tentáculos de pedra.

Ilona Bastos

2 comentários:

Maria Fonseca disse...

Querida Ilona,
Gosto muito do teu texto que revela uma realidade flagrante que nem sempre chama a atenção dos passeantes. E sucede tanto na calçada à portuguesa.
Beijinho grande,
Maria

Ilona Bastos disse...

Muito obrigada, querida Maria. Que alegria, receber a sua visita e o seu comentário! Mil beijinhos.