terça-feira, 4 de junho de 2019




FAUNA & FLORA - Da matéria das estrelas
Introdução

No início, "Fauna & Flora" destinava-se a reunir textos inspirados nas plantas e nos animais que encontramos no nosso quotidiano predominantemente citadino – aqueles seres que, por fazerem parte do nosso dia-a-dia, muitas vezes não vemos nem valorizamos, mas que, se atentamente observados e acarinhados, nos reconciliam com a Natureza e a vida, e, por conseguinte, connosco mesmos, como parte que somos de um todo grandioso e magnífico.

Assim, incluí escritos sobre as sementes que misteriosamente germinam num canteiro, as flores que perfumam a avenida, o arvoredo que emoldura a paisagem, os jardins românticos, o voo largo das gaivotas, os gatos rabinos, os cães, que tanta alegria e sofrimento nos trazem, os periquitos a lembrar uma aguarela, os besouros a entrar, voando, pela janela adentro... Enfim, sobre este conjunto a que, imprópria e ousadamente, me permito chamar fauna e flora da cidade. Poderíamos pensar que todas estas construções em vidro e betão pelas quais passa a nossa vida – os edifícios, as estradas, as pontes, etc. – nos isolariam da Natureza. Contudo, isso não acontece.

A Natureza encontra sempre meios de se afirmar – nem que seja fazendo nascer a erva por entre as pedras da calçada ou arquitectando um ninho de andorinhas por debaixo de uma janela de sacada.

Por outro lado, também a própria sensibilidade humana procura, desvenda, recebe todos esses sinais de vida, na Natureza se aninhando, como sua parte integrante.

Apercebi-me de que, ao escrever sobre a Natureza, sobre mim escrevia, e que, ao descrever a Natureza, a mim me retratava, dada a inegável simbiose existente. Somos, na verdade, um todo inextricável.

Portanto, a ideia inicial foi-se transformando e dilatando, passando “Fauna & Flora” a acolher também os textos em que, através da Natureza, sinto, e por ela me exprimo. E por esta via, sei-o, os caminhos são muitos, longos, ilimitados…

Encantou-me, igualmente, a revelação de que, não só tudo o que existe na Terra constitui um todo indissociável, como também o nosso próprio planeta faz parte de uma realidade cósmica de amplitude infinita, acontecendo que nós, e todos os seres e objectos existentes, somos feitos das mesmas partículas essenciais que compõem a matéria conhecida do Universo. Por outras palavras, somos feitos da mesma matéria das estrelas.

Tal princípio exponencia o que nos cerca – neste caso, a fauna e a flora – num grau de incomensurável grandiosidade. Sob esta luz, a folha, a flor, o pássaro ganham nova perspectiva, complexidade, dimensão.

Esta, a explicação para o surpreendente subtítulo, que desejo ilumine toda a obra.

Gostaria que, tal como eu, possa o Leitor sentir como é realmente magnífico este todo de que fazemos parte!

Sem comentários: