quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Oliver Sacks

"Pode a mais breve exposição à música clássica estimular ou promover as capacidades matemáticas, verbais e visuo-espaciais em crianças? No início da década de 90, Frances Rauscher e os seus colegas da Universidade da Califórnia em Irvine criaram uma série de estudos para ver se ouvir música poderia modificar os poderes cognitivos. Publicaram vários estudos fundamentados, nos quais explicavam que ouvir Mozart (em comparação com ouvir música "relaxante" ou o silêncio) intensificava temporariamente o raciocínio espacial abstracto. O efeito Mozart, como foi denominado, não só estimulava a controvérsia científica, mas causava uma intensa atracção jornalística e, inevitavelmente, reivindicações exageradas que para modo nenhum eram sugeridas nos modestos relatórios originais dos investigadores. A validade de tal efeito Mozart tem sido contestada por Schellenberg e outros, mas o que está acima de qualquer disputa é o efeito de treino musical intensivo e precoce sobre o moldável cérebro jovem. Utilizando a magnetoencefalografia para analisar potenciais auditivos evocados no cérebro, Takako Fugioka e as suas colegas têm vindo a registar mudanças notáveis no hemisfério esquerdo de crianças que fizeram um único ano de formação em violino, em comparação com crianças sem qualquer formação.

"A implicação de tudo isto para a educação básica é clara. Apesar de uma colher de chá de Mozart provavelmente não poder tornar uma criança melhor a matemática, há poucas dúvidas de que a exposição regular à música e especialmente a participação activa na música podem estimular o desenvolvimento de várias áreas diferentes do cérebro - áreas que têm de trabalhar em conjunto para se ouvir ou tocar música. Para a maior parte dos estudantes, a música pode ser tão importante em termos educativos como a leitura ou a escrita."

Oliver Sacks, Musicofilia, pág.104, Antropos, Relógio d'Água

Sem comentários: