sábado, 5 de setembro de 2009

É necessário que esta louca, esta filósofa, esta sábia, esta criança sonhadora que em mim habita me sussurre, grite, acotovele, acorde e ilumine, para que decida passar algumas palavras ao papel.
Assim me tem trazido a preguiça, ao ponto de me convencer a ignorar a voz desafiante da escrita. Como é isto possível? O que se passa? Será do Verão, que me embriaga de calor, de céu azul e sol, conduzindo-me por caminhos longínquos, tão distantes da poesia? Ou de simples ausência de inspiração, que o morno fluir do tempo acolhe acriticamente e incentiva?
Seja como for, devo estar atenta às mensagens breves que agora me chegam. Não desprezá-las, é o primeiro passo. O segundo é encontrar em mim vitalidade para descobrir o bloco e a caneta. Depois, o resto resolver-se-á na troca de carícias entre o aparo elegante e a superfície atraente do papel. Entre si se entenderão, praticamente sem que tenha de intervir. Nesse bailado sobre o acetinado cor de marfim as palavras surgirão, e com elas as ideias.
Surge-me então a questão: o que nasce primeiro – a ideia ou a palavra? Qual é a causa e qual é o efeito?
Esta dúvida é recorrente no meu dia-a-dia. A possibilidade da inversão do nexo de causalidade persegue-me mais do que seria razoável. Sempre que o resultado de um estudo me é apresentado, interrogo-me sobre se os investigadores tiveram na devida conta a possibilidade de a causa ser, realmente, o aparente efeito, e o verdadeiro efeito a presumida causa. Corolário, talvez, da minha teoria de que as coisas são o contrário do que parecem, será esta suspeita, afinal, uma característica intrínseca da minha maneira de ver o mundo?
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Ilona Bastos
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Joe Hisaishi Live performance

Howl Moving Castle Main them

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