segunda-feira, 21 de março de 2011




O ESCREVER DA POESIA


Não sei se escrevo poesia
Ou se a poesia me escreve.

É presunção, decerto, julgar-me criadora,
Chamar poesia a estas palavras
Que debito, desajeitadas e frouxas,
Nas brancas páginas de um caderno.

Maior presunção, ainda,
Acreditar que meus actos desconexos,
Pensamentos e gestos perplexos,
Encerram em si a poesia, o motor
Gerador do meu viver.

E, contudo, a poesia existe em mim
E em meu redor. Sinto-a!
Encontro-a amiúde,
Em manhãs de sol radiante,
Em tardes de plúmbeo céu,
Em noites quentes de abóbada estrelada.

Nem sempre, é certo, a reconheço,
Nem sempre, é certo, me toca e aborda…
Não sei mesmo de onde vem,
Os caminhos que percorre,
Suas maneiras e manhas.

Dias há que a procuro em vão,
Nas esquinas e nas sombras,
Mesmo nas iluminadas avenidas
Que essa luz branca, esfuziante,
Torna nítidas e confusas,
Na confusão que tudo invade,
E cresce, se a poesia não está.

É-me estranha, é-me íntima a poesia!

Ténue, fugidia, forte, impressionante,
Dá sentido ao que sentido não tem,
Mas se a escrevo ou se me escreve,
Isso é que eu não sei bem…


Ilona Bastos

3 comentários:

Maria Fonseca disse...

Querida Ilona,
O Escrever da Poesia é um lindíssimo poema que adorei.
Uma definição simples e extraordinária!!! Os meus Parabéns!!!
Desejo que continues assim, quer seja de uma maneira ou de outra, a escrever inspirada Poesia.
Beijos, Maria

Helena Figueiredo disse...

Olá,
Gostei muito deste seu poema. Esse exercício indescrítivel que é escrever poesia, sentir os versos caindo no papel, momento mágico, aqui tão bem retratado.
Um beijo para Lisboa
(já não faço confusão)
Helena

Ilona Bastos disse...

Maria e Helena, muito obrigada. É sempre uma alegria receber a vossa visita e as vossas palavras generosas! Beijos, Ilona