quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012


Do Acordo Ortográfico e tudo o mais...


Quando os princípios basilares sobre os quais, desde a infância, se alicerçou tudo em nós – desde os actos mais básicos até aos mais elaborados raciocínios – , quando esses pilares são sucessivamente desgastados e destruídos, entramos numa tolerância indiferente, em que também os alicerces ainda não tocados perdem a sua firmeza e se tornam vacilantes, prestes a entrar em derrocada.
Vem-nos, então, a sensação de iminência do fim do mundo -  ou, pelo menos, do mundo tal como o conhecemos e reconhecemos.
Alargando o olhar e o pensamento, interrogo-me sobre se esta sensação não tem simplesmente que ver com a idade, com as sucessivas mudanças que nos são impostas, que vamos aceitando até que, em nós, algo diz: basta! Então, essa incapacidade de processar mais mudanças sem que a nossa base de sustentação (psicológica) seja abalada, leva-nos a imaginar que tudo rui à nossa volta, quando talvez não seja na verdade assim.
Penso nas pessoas idosas que conheci e que falavam desse mundo que em seu redor viam sucumbir. Jovem que era, apercebia-me de que a única coisa que ruía, na verdade, era a saúde e a vida de quem assim falava. Jovem, apreciava o que em meu redor nascia, crescia, frutificava, um novo mundo em agradável emergência.
Se assim for - se se tratar de uma sensação subjetiva, conversa de quem não tem mais capacidade para processar a novidade - duas vertentes se apresentam: a primeira, é a boa notícia de que, apesar das guerras, do terrorismo e dos cataclismos, o mundo continuará a existir, até que o Sol se extinga ou expluda e abocanhe a Terra; a segunda, é a má notícia de que estamos a envelhecer e a perder a capacidade de acompanhar o ritmo das mudanças.

Ilona Bastos

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