terça-feira, 26 de agosto de 2008


Esta manhã praticamente não vi ninguém, para além de ti, que me beijaste meio adormecida.
Quando levei o cão a passear, havia apenas um homem a subir a rua, assobiando, e uma mulher, ainda jovem, a sair de um automóvel e a dirigir-se ao salão de beleza, no edifício da esquina.
De resto, só o cão - com quem converso como se de uma criança se tratasse. E o cão responde como uma criança. Olha-me com o seu olhar meigo, ora atento, ora espantado, ora desconfiado.
O cão também tem desconfianças, sublinhadas pelo subir das orelhas, pelo abrir da boca, expectante, pela pose do corpo, em sentido, pelo pescoço voltado para cima, para mim, como quem pergunta: “A sério?!!”


Agradam-me estas ruas, mornas e desertas, inundadas de sol!
Não sei se mais aprecio o silêncio, de sons e movimentos, se a vaga nostalgia do bulício, que subjaz à quietude da tarde.
Até o ronronar do autocarro, a meu lado, e o olhar perdido dos passageiros, voltados para a janela, ou o arrancar súbito dos automóveis quando o sinal se torna verde, tudo me causa uma sensação de agradável descontracção estival.
Como as sombras das árvores, são plácidos os poucos cidadãos que pelo passeio se deslocam, alongando passadas calmas e metódicas na calçada.
Só a brisa fresca, ao fim da tarde, vem acordar as ruas adormecidas. Agitam-se, então, as copas, - por vezes com violência -, e os ramos, ao brilho da luz dourada, dançam freneticamente, embravecidos.
Pouco depois, chega a hora do crepúsculo - o vento amaina, a tranquilidade é total. E das janelas ouvem-se os ruídos de vozes e de bater de tachos e panelas, na preparação do jantar.
É assim, o mês de Agosto na cidade.
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Ilona Bastos

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