domingo, 24 de agosto de 2008


Trauteio, canto, sorrio, deixo as lágrimas correr sem vergonha.
Queria aprender piano para tocar Chopin. Quero agora tocar guitarra, para dedilhar “Tocando em Frente” e cantar as massas e as maçãs
As palavras, em si, são só palavras: quando ditas, meros sons, quando escritas, intrincadas contorções de traços, rectos e curvos, sobre o papel. Nada mais! Se pronunciadas ou escritas aleatoriamente, mal suscitam reacção. Mas, se conjugadas, transformam-se em imagens, ideias, pensamentos, emoções. Quando utilizadas com talento especial, como o fazem os escritores e os poetas, conseguem mais do que tudo atingir-nos directamente na alma que, assim exposta, se sente tocada no mais fundo de si mesma.
Que mistério, este, o das palavras!
Que mistério, o da natureza humana e do funcionamento deste cérebro que recebe, processa, regista, reage ao estímulo das palavras soberbamente trabalhadas, e as reenvia para o mais íntimo de nós, afectando-nos como dificilmente podemos ser afectados por qualquer outro estímulo!
Referi anteriormente o Filho-da-Estrela, de Óscar Wilde, história que tanto me comoveu e perturbou na infância, e cuja leitura ainda hoje me toca profundamente.
O mesmo efeito exerce sobre mim este “Tocando em Frente”…
Como? Porquê? Responderá, afinal, este poema, às mais profundas questões que sobre a natureza humana colocamos? Será tudo, afinal, tão complexamente simples?
Mas há ainda a música – não o esqueçamos. E eis outro mistério a desvendar: os sons básicos, primitivos, despertam em nós sensações básicas, de medo, espanto… mas, quando mais elaborados – como, por exemplo, o canto dos pássaros que agora escuto, ou a música criada pelos Homens – têm um efeito equivalente ao das palavras.
Associadas, palavras e a música, conseguem, no caso de “Tocando em Frente”, emocionar-me tão surpreendentemente que suspeito encontrar nelas muito mais do que simples palavras, muito mais do que simples música…
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