
O cão não se cansa de ladrar à porta, o elevador não se cansa de produzir os mesmos ruídos ao fechar da porta, a porta do quarto não se cansa de vibrar da mesma forma, resistente à aragem que sob si desliza, entrada pela janela, com destino ao terraço. A porta sabe que não pode fugir aos movimentos repetitivos, mas sente que por si muitos passam, e que um lado é diferente do outro, e que de um lado vem a luz e do outro a escuridão… e que o importante é a passagem!
Porém, eu canso-me. Hoje, particularmente, que dormi poucas horas, entregue ao furor de enviar para o concurso um antiquíssimo poema. Um pouco de entusiasmo pela vida sempre me compensou...

Propositadamente, não liguei o rádio. Tão fragmentados estão os meus pensamentos, que poderia a música espalhá-los, em cacos, pelo quarto.

Não sei mais o que fazer em relação a esta minha tendência para a cacofonia – será patológica? E contagiosa?

“Parece que quanto mais caro está o combustível, mais se utiliza o automóvel!”
“Vá-se lá perceber…”
Subitamente, uma chuvada perfeitamente geométrica (ficou a paisagem riscada, na diagonal, com longas e elegantes rectas) desabou sobre nós. Depois, uma inesperada mudança do vento tornou as paralelas verticais. Finalmente, tão espantosamente como chegara, a chuva partiu. E agora, que desço à rua, caminho saltitante ao sol – limpo o ar, lavada a calçada, desanuviado o meu pensamento.
O verde brilhante da folhagem balança ao vento. Amo o verde!

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