quarta-feira, 1 de outubro de 2008


OUTUBRO


Súbita, inesperadamente,
Passo a linha de fronteira
E penetro em Outubro,
O mês sagrado.
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Ouso sorrir, agora,
Porque chegou Outubro.
Posso largar a bagagem
E acomodar-me bem,
Porque voltei a casa.
As ruas com seus adereços
De prédios antigos,
Sinais luminosos
E árvores douradas,
Tornam-se ternas e familiares,
Porque estamos em Outubro.
.
O cair da noite refresca-nos
E convida ao repouso,
Porque estamos em Outubro.
As letras, nos livros, os traços,
No imaculado branco dos cadernos,
Ganham novo brilho,
Porque estamos em Outubro.
Os nossos pensamentos são leves
E a melancolia carinhosa,
Porque estamos em Outubro
.
.
A televisão mostra programas
De uma inteligência envolvente,
Porque estamos em Outubro.
As montras das lojas, na cidade,
Com a sua colecção de roupa quente,
Atraem-me com sonhos e acenos,
Porque estamos em Outubro.
A música soa viva, harmoniosa,
Porque estamos em Outubro,
E o vento sopra confidências.

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Porque estamos em Outubro,
O castanho e o verde da Natureza
Acariciam-nos o olhar.
Porque estamos em Outubro,
A chuva, quando vier, se vier,
Será festiva e doce.
Porque estamos em Outubro,
A calçada estenderá, diante de mim,
Um espantoso tapete de folhas
Em todos os tons de amarelo,
De vermelho, de dourado,
E convidar-me-á a sair,
A avançar, a criar, a viver…
.
Só porque estamos em Outubro!
..
.
Ilona Bastos
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Lisboa, 1 de Outubro de 2005
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Martha Argerich plays Chopin's Nocturne in D-flat major, Op. 27 No. 2Live - April 13, 1972


Beautiful video by kimolerik

2 comentários:

Poesia Portuguesa disse...

Uma bela partilha!

Joana Roque Lino disse...

Muito obrigada. Gostei do seu blogue. Cumprimentos.