quarta-feira, 22 de outubro de 2008



Luís Sepúlveda

" Vi-o rumar em direcção ao Nishin Maru e, quando chegou lá, os tripulantes começaram a atirar-lhe lixo para cima, latas e desperdícios, que o Pedro lhes devolvia sem conseguir atingi-los. Depois começaram a fustigá-lo com um jorro de água. Os japoneses riam enquanto o inundavam, e o Pedro concentrava-se em manter o escaler a flutuar.
"Eu não sabia, não era capaz de imaginar o que é que ele pretendia ao manter-se colado ao Nishin Maru, enquanto os tripulantes até lhe urinavam para cima, e o que depois aconteceu vai o senhor ver amanhã, mas seria estúpido não lho contar agora.
"A um dado momento, quando mais duas mangueiras se tinham juntado à brincadeira e o Pedro já quase não conseguia manter-se a flutuar, emergiu junto ao escaler o dorso de uma baleia calderón, que, com todo o cuidado, empurrou o Pedro e a sua embarcação até os afastar do navio. Então, obedecendo a uma chamada que nenhum outro humano ouviu no mar, um chamamento tão agudo que estremecia os tímpanos, trinta, cinquenta, cem, uma multidão de baleias e de golfinhos nadaram velozmente até quase tocarem a costa, para regressarem com maior velocidade ainda e chocarem as cabeças contra o barco.
"Sem lhes importar o facto de que em cada ataque muitos morriam de cabeças rebentadas, os cetáceos repetiram os ataques até que o Nishi Maru, empurrado contra a costa, correu o risco de encalhar. Levaram-no para muito perto dos recifes e havia pânico a bordo."
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Luís Sepúlveda, Mundo do Fim do Mundo

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