quarta-feira, 3 de setembro de 2008


Fauna & Flora: Aquarela do Brasil

É um belo casal de periquitos! Ele, de uma delicada plumagem amarela, dá pelo nome de Tom Jobim. Ela, de verde vestida, chama-se Adriana Partimpim. Em conjunto, tratamo-los por Pimpins.
A lembrança destes nomes, algo surpreendentes, surgiu-me quando os trazia para o seu novo lar e me recordaram uma deliciosa aguarela, maravilhosamente desenhados e coloridos, em contraste com o cinzento da rua e dos passantes automóveis, adereços grosseiros desta paisagem urbana.
“Parecem uma Aquarela do Brasil”, pensei. E, numa bizarra associação de ideias – afinal, não escolhi Ary Barroso para baptizar as criaturas – entendi prestar homenagem aos dois talentosos artistas brasileiros.
Na nossa casa, os Pimpins vivem na marquise, de onde assistem ao nascer do sol, e se abrigam ao anoitecer. Têm poleiros feitos de ramos de árvores, bebedouro com água e vitaminas, ossos de choco onde afiam os bicos, algumas guloseimas com sementes, frutos secos e mel, comedouros, e uma ampla banheira, para se refrescarem.
Faz-me lembrar uma luxuosa piscina das termas, este recipiente branco, coberto por uma abóbada transparente, onde os periquitos se banham.
A base da alimentação destas lindas aves é uma mistura de sementes de vários feitios e cores, entre as quais me é possível identificar a alpista e o sésamo. Constituem, para mim, um mistério, esses outros grãos redondinhos e brilhantes em vários tons de caramelo, bege e dourado, que os periquitos depenicam com prazer.
Olhando para a comida dos periquitos enquanto alimento, nunca me consciencializei de que é constituída por sementes, ou seja, gérmen, promessa, base de vida.
Assim, foi com surpresa que hoje encontrei, ao lavar a piscina dos Pimpins, uma pequena planta composta por duas tenras folhas ligadas a um só caule, terminando numa pálida e diminuta raiz.
Recuperada do espanto, apercebi-me de que aquele pequeno milagre de vida surgiu da imersão, em água, de uma das minúsculas sementes que constituem o essencial das refeições dos periquitos. Tão simples como isso!
Basta uma semente e uma gota de água para que a vida nasça, exaltada, veemente. E é suficiente um pouco de sol para que se expanda, ilimitada, em raízes, caules, folhas, flores e frutos!
Com que facilidade nos esquecemos da riqueza, complexidade, simplicidade e fascínio do milagre da vida que brota desta bendita Terra, que temos urgentemente, absolutamente, que começar a respeitar!
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Ilona Bastos
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