sexta-feira, 5 de setembro de 2008


Há sensações que pairam sobre nós como gigantescas nuvens negras, parte de um cenário que é o da nossa existência, e ao qual não podemos escapar, ainda que mudemos de terra, de hábitos, de pensamentos …
Ainda que riamos, que conversemos, que sintamos temporariamente segurança e alegria, que pensemos ter afastado para bem longe do nosso cérebro essa cúpula cinzenta do desânimo, ela permanece, persiste e volta a envolver-nos...
Pergunto-me, então, se o que constitui o nosso âmago, aquilo que mais intrinsecamente nos caracteriza e define, é essa permanência plúmbea que em gestos expressivos conseguimos por vezes iludir, ou se, pelo contrário, nós somos verdadeiramente esses gestos, a luta, a persistente conquista de um acto mais azul, uma ideia mais clara, um sentimento mais transparente…
É essa a questão: se quiser descrever-me intimamente, devo começar por esse medo e essa dúvida que, como pano de fundo, me acompanham – e terei, assim, de me considerar estruturalmente medo e dúvida? Ou, precisamente ao contrário, hei-de definir-me pelos rasgos de coragem, pelas certezas encontradas, pela luta diariamente travada para iluminar os meus dias?
Na verdade, se puder considerar esse plúmbeo céu como comum a todos os humanos, então vê-lo-ei como exterior a mim própria. E serei uma brava guerreira, combatendo sem tréguas o desânimo, o medo, a dúvida, empunhando bem alto a chama da fé, alumiando cada dia com a luz da esperança, e assim construindo, com garra, inteligência e generosidade, o caminho da felicidade
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Ilona Bastos

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